Dr. Arhur Lima de Ávila – UFPEL
Dra. Luciana de Aragão Ballestrin- UFPEL
Resumo: O presente simpósio temática busca discutir as aportes mais recentes das Ciências Humanas das Américas aos debates sobre fronteiras e identidades. Dentre estes, podemos enumerar as recentes contribuições historiográficas que problematizam o conceito espacial e cultural de “fronteira”; os debates interdisciplinares sobre globalização, multiculturalismo, interculturalidade, decolonização do conhecimento e migrações internacionais; as questões acerca do binômio modernidade/colonialidade; e, finalmente, a problematização das fronteiras disciplinares entre os diversos ramos das Ciências Humanas nas Américas.
Justificativa e Objetivos:
Desde o século XIX, as “fronteiras americanas” foram representadas de formas diversas pelas Humanidades das Américas. Se, na América Latina, foram primeiramente entendidas a partir do binômio “civilização” e “barbárie”, consagrado pelo intelectual argentino Domingos Sarmiento em sua antológica obra “Facundo” (1845), nos Estados Unidos, a partir do seminal trabalho de Frederick Jackson Turner, de fins do século XIX, a fronteira foi entendida como o motor do desenvolvimento histórico estadunidense e como sua matriz identitária mais importante. Em ambos os casos, tais interpretações geraram poderosos legados para as Ciências Humanas locais.
Mais recentemente, contudo, buscou-se reinterpretar tais noções, rompendo com visões dicotômicas ou com essencialismos identitários, entendendo as fronteiras não só como espaços de divisão e separação, mas também como territórios de acomodações, compromissos, negociações e conflitos diversos, fugindo de narrativas e interpretações teóricas que reificavam os espaços dos Estados nacionais e suas identidades correspondentes. No caso norte-americano, por exemplo, autores como Gloria Anzaldua e Samuel Truett, para citar apenas dois, repensaram a fronteira entre México e Estados Unidos não só como um espaço de separação entre os dois países, mas também como uma zona de relações assimétricas de poder que, nem por isso, deixava de ser também uma região de acomodações e conflitos diversos não só entre aqueles Estados nacionais, mas também entre identidades que carregavam significados antagônicas em si mesmos (como o caso de um “mexicano” nascido nos Estados Unidos). Igualmente, Richard White ajudou a repensar a fronteira colonial entre os Impérios francês e inglês e os indígenas algonquinos do atual Quebec nos termos de uma zona de acomodações muita mais complexa do que havia sido imaginado anteriormente. Finalmente, para citarmos o caso do espaço platino na América do Sul, a historiografia mais recente também tem reimaginado os territórios fronteiriços para além das divisões entre os Estados-nação da região, afirmando sua condição dupla tanto como linhas de negociação e mobilidade, como também de exclusão e repulsão, como demonstram Roberto Schmitt e Juan Garavaglia.
Em termos mais amplos, estas releituras sobre “fronteiras” e “identidades” servem para questionar, inclusive, o predomínio de interpretações eurocêntricas nas Humanidades, como demonstrado pelo grupo Modernidade/Colonialidade e sua releitura da história das Américas a partir daquilo que Walter Mignolo definiu como “pensamento de fronteira”. Aqui, contudo, a intenção é ir além de uma simples reinterpretação da história da América Latina, mas buscar a criação e a efetivação de genuínas epistemologias decolonizadas para o Sul global, capazes de explicar fenômenos como a multiculturalismo, globalização e migrações internacionais, por exemplo, a partir de uma perspectiva subalterna e não mais submetida a interpretações eurocêntricas. /
Bibliografia
ANZALDUA, Gloria. Borderlands/La Frontera: the new mestiza. San Francisco: Spinsters/Aunt Lute, 1987.
GARAVAGLIA, Juan Carlos. Poder, conflicto y relaciones sociales: el Rio de la Plata, XVIII-XIX. Rosario: Homo Sapiens, 2008.
GUAZZELLI, Cesar A. B.; AVILA, Arthur Lima de; THOMPSON FLORES, Mariana (org.). Fronteiras Americanas: teoria e práticas de pesquisa. Porto Alegre: Letra & Vida, 2009.
MIGNOLO, Walter. Histórias Locais/Projetos Globais: colonialidade, saberes subalternos e pensamento de fronteira. Belo Horizonte: UFMG, 2003.
SANTOS, Boaventura de Sousa & MENESES, Maria Paula (org.). Epistemologias do Sul. São Paulo: Cortez, 2010.
TRUETT, Samuel. Fugitive Landscapes: the forgotten history of the US-Mexico Borderlands. New Haven: University of Yale Press, 2007.
WHITE, Richard. The Middle Ground: Indians, Empires and Republics in the Great Lakes Region, 1650-1815. Cambridge: Cambridge University Press, 1991.
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