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Cancioneiro guasca
Uma festa
Senhores, se querem ver
Um sucesso assaz galante
Dai-me atenção um instante
E ouvirão.
Eu vos faço narração,
E começo a divulgar
Coisa que é de se ficar
Pasmado!
Porque, no tempo passado,
Nunca se chegou a ver
O que veio a acontecer
Agora.
Desposou-se uma senhora
Na capela do Boquete;
E deu o melhor banquete
Do mundo!
Eu que atendi em segundo,
E que sempre observava
Vi que o banquete contava
Bons manjares.
Mas vim ver nestes lugares,
- Não sei se é do uso aqui -
Pratinhos que nunca vi
Em funções:
Laçaços e bofetões!...
É o nome que eu lhes dei;
Mas eu deles não provei,
Nem por nada!
São comidas carregadas,
E eu nunca gostei delas,
Nem tampouco posso vê-las
Perto de mim...
Como foi: Manoel Joaquim,
Que do noivo era um irmão,
Foi quem tomou o fartão
Do tal bocado.
O pai com ele zangado,
Por ele entrar-lhe com contos,
Fez chegar o caso a pontos
Do laço andar...
ELe, então a fim de honrar
A sua querida mãe...
Diz: - Voce não é meu pai!...
E assim,
Poder nenhum tem em mim;
E a dizer-lhe agora, venho:
De obedecer não tenho
Obrigação! -
E para que a função
Fosse inda mais arrojada,
Da noiva uma irmã casada,
E outra solteira,
Também lá por certa asneira,
De um vidro que se quebrou,
A solteira, sem mais, começou
A improvisar:
Quis uma outra acomodar,
Mais armaram tal travada.
Que o marido da casada
Acudiu!
A solteira que isto viu,
Querendo a coisa espremer:
- Que vem cá você fazer,
Seu ladrão?... -
A casada, disto então
Fortemente estimulada,
Sentou-lhe uma bofetada;
Foi um gosto!
Ela rebateu com o rosto
- Que assim manda a boa ordem -
E eu, vendo uma tal desordem,
Quebrei beco...
Francisco José Pacheco
Que do noivo era padrinho,
Vendo que o tal pratinho
Não lhe tocava,
- Pois suponho que gostava,
Segundo o que praticou.
Que para o mostrar tratou
Servir-se a si;
- Bem asno em estar aqui,
(Dizia) nesta função!... -
E, a si mesmo, muito bofetão
Foi dando!
Eu estive observando
Aquele belo entremez,
Que, sem dúvida, se fez
Com aplauso.
Da noiva findo o caso,
Resta-me dizer agora,
Aquela dita senhora
Como se chama,
Para que conte a fama
Duma função esquisita,
Que se fez no casamento
De Antônia Rosa Brabita!
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