Cancioneiro guasca
Saudades da província

Que saudades eu não tenho
Daqueles tempos passados,
Em qu'eu montava o tordilho
Com arreios prateados,
E riscava campo fora,
Entre os monarcas largados!...

Eu namorava uma dama,
Eh puxa!... moça bonita!
Me trazia pelo freio,
Como ninguém acredita!...
Mas, por Deus, qu'ela era linda,
Com seu vestido de chita!

E tinha uns olhos tão guapos...
Para dizer a verdade:
S'eles olhavam p'ra mim,
Não me sentia à vontade;
Perdia logo os estribos!...
Que moça! barbaridade!...

Ah! se eu fora tão ditoso
Que ela me desse um abraço,
Por Deus, que até deixaria
Cupido passar-me o laço:
Em troco, a ela daria
O meu cavalo picaço!

A cruel deixou-me à soga...
- Bem mostrou alma pequena! -
Mas, se ainda me recordo
Dos olhos dessa morena,
Qualquer prazer me diverte,
Qualquer gosto me dá pena!...

Quando me lembro dos pagos
Fico triste e aperreado;
Lá deixei o mano Juca,
Monarca quebra e largado;
Ninguém lhe pisou no poncho
Que não ficasse pisado!

A sorte atirou-me o laço,
E me cinchou para aqui;
Maneou-me nestes campos
Que chamam de - Tuiuti -
Por Deus! que tenho saudade
Dos pagos onde nasci!...

Tenho saudades dos campos,
Saudades do meu rincão,
Onde eu era conhecido
Por homem de opinião;
Saudades do bom churrasco
E do mate-chimarrão...

Mas vocês ainda não sabem
Quanto me vale esta espada:
Pode lá vir quem vier,
Hei de dar-lhe uma pechada!
Caramba! se viesse o Lopez,
Estava a guerra acabada!...

Mandei plantar os desgostos
No tronco do tarumã,
E da raiz na romã
Vou mil palitos fazer,
Para todos oferecer
À ingrata de Camaquã!...

P. A. - 1867
(Voluntário rio-grandense, na campanha do Paraguai.)

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