Cancioneiro guasca
Outro, entre um velho e uma velha pitadeira

ELA:

- Véio guapo e chibante,
De carçado de sarto arto,
Dizei-me se tens um cigarro
De paia di mio vermeio?...

ELE:

- Senhora, minha senhora,
Dona deste coração:
Chupe lá quatro fumaças,
Deste seu venerador!...

MOTE

Vou embora; adeus, Sampaio,
Não te incomodes comigo.
De ti não levo saudades
Mas sempre sou teu amigo.

GLOSA

É custosa a despedida
Mas pior é a ficada
E não sinto, camarada,
Deixar-te aqui nesta vida.
Sei que gostas desta lida
Porque dela tens ensaio
Eu é que noutra não caio,
Não entro nestes pagodes
Por isso, não te incomodes
- Vou embora; adeus, Sampaio. - *

Sei que ficarás bravo
Com a minha retirada
Mas isso não vale nada
Porque não sou teu escravo,
Não sou peão de conchavo
Por isso pr'os pagos sigo
A plantar feijão ou trigo
Que sempre ganharei mais,
Até breve, fica em paz
- Não te incomodes comigo. -

Se ficas aborrecido
Por não ter dado parte,
Passa a mão num bacamarte
E faz o que for devido;
Senão, me põe excluído,
Diz mal das minhas maldades,
Procura-me nas cidades
Ou manda-me perseguir,
Que eu sempre direi a rir:
- De ti não levo saudades. -

Não faz o mesmo que eu:
Persegue esses maragatos,
Entre nas sangas e matos,
Põe-te pior que os judeus;
Encomenda-te com Deus
P'ra escapares do perigo,
Conduz um breve contigo
Que sirva de salvaguarda,
Que eu, vou com alma enraivada,
- Mas sempre sou teu amigo. -

* O então Coronel J. C. Sampaio.

(Após o cerco de Bagé - 2 de março de 1894.)

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