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Cancioneiro guasca
O noivo pronto
Boa tarde, seu vizinho!
Bati como três vezes na cancela,
Como ninguém mandou entrar,
Vai... e foi... eu abri e entrei por ela.
Pelo jeito... passa bem?
E também a obrigação?
Se lhe pergunto estas coisas!
É só por estimação.
Ora pois, aqui me tem
Assim um tanto avexado
Por ter o que lhe dizer
Sem saber dar o recado.
Vindo aqui na sua casa
Não lhe venho visitar,
Mas somente lhe dar parte
Que breve me vou casar.
Estou de um tudo preparado,
Nada me falta p'ra festa
Apenas uma camisa
Mais engomada que esta.
Também lhe venho pedir
Seu lencinho de pescoço
P'ra ver se naquele dia
Fico o mais bonito moço.
Se não lhe faz desarranjo,
Suas calças e colete
P'ra não fazer má figura
Junto de meu ramalhete.
Também lhe peço emprestado
Seu casaco e seu chapéu
Pois quem vai p'ra se casar
Vai p'r'o caminho do céu.
E p'r'acompanhar a fatiota
Suas botas e as esporas;
Minha mãe fica contente
Por causa das outras noras.
Ora, depois de vestido
O pó da estrada me suja
E não quero que por isso
A minha noiva me fuja.
Por isso também lhe peço
O seu cavalo tostado
Com este ginete em cima
Verá como ele é gabado.
E peço que ele vá pronto,
Com seus aperos de prata,
O casar não custa nada
Quando o noivo se precata.
E para encerrar a festa
Tendo a gente algo que morda
Também lhe peço emprestada
Uma terneira bem gorda.
Só faltou dizer agora
Quem minha noiva vai ser,
Se o meu vizinho consente
É o que me resta saber.
Tenho cavalo e arreios,
Traje, terneira e vontade;
Agora lhe peço a mão
Da Rosinha, essa beldade.
Se consente em ser meu sogro
Pouco mais tenho a pedir
Cama e mesa e sociedade
No lucro feito e por vir.
Nos tempos que vão correndo
Ninguém se deve amarrar
E eu esqueço tudo, tudo
P'ra co'a Rosinha casar.
E diga, no soflagrante,
Se devo me retirar
Se a Rosinha não me pega,
É capaz de se matar.
E apenas por dever
De não provocar tristezas
Lhe peço esse ajutório
Apenas de miudezas.
E como consente e cala
É que vou por bom caminho
P'ra completar o serviço
Seja também meu padrinho?...
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