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Cancioneiro guasca
O major (+) Floriano
Quando a gringada se mete
Nada tem que ver,
Se lhe deve de sacar
- Pataleando!
Se não servem, vão andando,
Que o sol vem e a lua vai,
E cada filho tem seu pai,
Do mesmo jeito.
Eu por fim, este preceito,
De um velho já muito andado
Por este mundo de Cristo,
- Aprendi:
Não falo do que não vi;
Não tomo camorra alheia;
Também de matungo magro,
- Não caio.
Não vê! Quando vem um raio,
Não traz rumo nem ponteiro,
Vem viajando d'escoteiro
- E corta;
Caminha por qualquer porta,
Atalha qualquer janela,
E sobre quem se lhe olha pára
- Estoura!
Eu já estou de barba moura,
Mas quase me achei muchacho,
Quando o major, sem empacho,
- Respondeu,
uando pisar pretendeu
A ministrada estrangeira,
Esta terra brasileira,
Como reúna!
E o caboclo... ai! juna!
Passou a mão no bigode,
Como quem quer e não pode
Saltar...
Amigo! Se a coisa estala,
Porongo sempre dá cuia...
Mas logo tudo se cala,
Perante a força tapuia.
Por isso que o major
Perguntado de mau jeito
Se estrangeiro se metia
Na nossa íntima folia,
Deu logo a nota maior,
De quem se não avassala;
E abrindo o peito à fala,
Respondeu logo, a preceito;
- Que recebia o sujeito
A bala!
MOTE
Pela Pátria, em Pátria alheia.
Sofrendo a dor da saudade.
GLOSA
Se do Céu baixasse à terra
O nnosso grande Redentor
Tinha de ver, com horror,
Os males que a luta encerra,
Porque numa interna guerra
Como a que o Brasil pranteia
- Que irmão com irmão se odeia
É não ter dó nem piedade
Deixar-nos mirrar de saudade
Pela Pátria, em Pátria alheia;
Mil vezes dormir sem ceia,
Sem colchão, sem travesseiro
Do que ver um povo inteiro
Pela Pátria, em Pátria alheia!
Por isto me falta a idéia
Para com pura verdade
Descrever a crueldade
De Castilhos e Floriano,
Que traz povo soberano
Sofrendo a dor da saudade.
Mas, se não fora a idéia,
Que suaviza a crueldade,
Morta estava a felicidade
Do infeliz emigrado
Que se vê hoje exilado,
Sofrendo a dor da saudade!
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