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Lendas do Sul
A Mboitatá
III
Minto:
na última tarde em que houve sol, quando o sol ia descambando para o outro lado das coxilhas,
rumo do minuano, e de onde sobe a estrela-d’alva, nessa última tarde também desabou uma
chuvarada tremenda; foi uma manga d’água que levou um tempão a cair, e durou… e durou....
Os campos foram inundados; as lagoas subiram e se largaram em fitas coleando pelos tacuruzais
e banhados, que se juntaram, todos, num; os passos cresceram e todo aquele peso d’água correu
para as sangas e das sangas para os arroios, que ficaram bufando, campo fora, campo fora,
afogando as canhadas, batendo no lombo das coxilhas. E nessas coroas e que ficou sendo o
paradouro da animalada, tudo misturado, no assombro. E era terneiros e pumas, tourada e
potrilhos, perdizes e guaraxains, tudo amigo, de puro medo. E então!...
Nas copas dos butiás vinham encostar-se bolos de formigas; as cobras se enroscavam na enrediça
dos aguapés; e nas estivas do santa-fé e das tiriricas, boiavam os ratões e outros miúdos.
E, como a água encheu todas as tocas, entrou também na da cobra-grande, a — boiguaçu — que,
havia já muitas mãos de luas, dormia quieta, entanguida. Ela então acordou-se e saiu, rabeando.
Começou depois a mortandade dos bichos e a boiguaçu pegou a comer as carniças. Mas só comia
os olhos e nada, nada mais.
A água foi baixando, a carniça foi cada vez engrossando, e a cada hora mais olhos a cobra-grande
comia.
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