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Cancioneiro guasca
Gauchadas
Fui tomar ares fora, há quatro ou cinco meses,
Na estância de um amigo; e repetidas vezes
Toquei-me campo fora e fui parar rodeio,
Montado em pingos tais que nunca viram freio!
Eu ia, a toda a brida, à toa, pelos Pampas,
Os touros apanhando a laço pelas guampas,
Repontar os baguais, as éguas, os potrancos,
Rodando nos cupins, saltando nos barrancos.
Era um guasca largado! Às minhas gauchadas
Diziam os peões: - Não é de caçoadas
Aquele doutorzito, a meio abaianado;
Por Deus que é ginetaço e moço abarbarado! -
Quer fosse na atafona ou fosse na senzala,
Por sobre os ombros meus caía em regra o pala,
Prendia o meu cigarro à fita do sombreiro;
E arrastava por gosto a espora no terreiro!
Nos fandangos, à noite, a china mais bonita
Olhava para mim - cantando a Chimarrita...
E se eu ia p'ra... roda então... barbaridade!
Por Deus e um patacão! não era da cidade!...
Duma feita, eu já tinha atravessado o passo,
E estava retouvando as bolas junto ao laço,
Quando vi, a banhar-se, uma chinoca airosa,
Lindaça como o sol, fresca como uma rosa.
Não sei o que senti; parece-me somente
Que eu quis abrir de raia e me tocar p'ra frente...
Mas - se os olhos gentis daquela tentação
Manearam-me logo o triste coração!...
Prisquei-me para trás e refuguei p'ra um lado,
Mas, como trotear se eu 'tava pealado?...
A china apresilhou-me uma olhadura terna...
Assim como quem diz - já te passei a perna! -
Embuçalou-me, a rir, e em tom de voz tirano
Perguntou-me depois: - Perdeu-se, o vaqueano?... -
Caramba! eu via bem que aquilo era um desfrute...
Mas a gente, patrício, às vezes não discute!...
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