Cancioneiro guasca
A moçada de São Lourenço

Viviam muito contentes
Tinham prazer imenso
Antes de vir p'ra campanha
Os filhos de S. Lourenço.
Agora vivem contritos
Como a rola no deserto,
Arrependidos de virem
Para a brigada do Neto.
Já dizem quase chorando
- Já nem se toma café;
Nunca pensamos passar
Da cidade de Bagé. -

Eu não me queixo da fome
Nem da falta de café,
Mas montar em burro magro
É pior que andar a pé,
Dizia um para o outro:
- Ah! meu amigo! o que quer?

Eu só tenho de queixar-me
Do Aurélio Xavier
Se perdermos um combate
Como vamos retirar
Neste matungos cansados
Qu'stão bons p'ra courear.

Isso é a pura verdade
A tua queixa é tocante.
Mas pior é esses pobres
Que vêm marchando d'infante
Antes entrar no inferno
Que morar no purgatório
Por andar a pé cansaram
Três do 9.° Provisório...
- Às vezes creio que alguém
Contra mim já rogou pragas...
- Deixa-te disso, não creias:
Lamúrias não curam chagas. -

- Adeus, adeus; até logo;
Manda ferver o soquete;
Que o ajudante mandou-me
Dar um giro com o piquete -
- Cuidado! não vás meter-te
Nalguma casa de telha...
Mas traz, se por lá arranjares,
Uma paleta de ovelha...
Mas toma tento, que agora,
O Sampaio nesta lida
Vai pôr em cada rebanho
Uma sentinela perdida!...

Porfírio & Joaquim R. Pereira
(Acampamento do Passo do Sarandi, 1894)

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