Cancioneiro guasca
Amigo Manduca

       Recebi
A carta que me mandaste
E - por Deus! - te digo, amigo,
Que me ri do que contaste.

Tive lástima de ti
Quando soube que rodaste,
Varando os balões por cima...
Que vergonha não passaste!...

Mas não me espantou, amigo,
O que aí te sucedeu,
Porque um caso igual a esse
Também ja me aconteceu.

Andava lá na cidade
Num matungo caborteiro.
Ia ao tranquito no mas...
Monarqueando folheiro,

Quando, ao varar uma rua
Ia o pingo escarceando
Me saem de um boqueirão
Dois balões corcoveando!

Ah! pingo! amigo Manduca!
Sentou de golpe e bufou;
E eu encostei-lhe as chilenas
E aí, no mais, velhaqueou!

Por esses ares berrando
Se atirou o mancarrão,
mas perdeu-se num corcovo
E veio de lombo no chão!

De rédea na mão, saí
Mas pechei-me co'o balão,
Que vinha erguido na frente
À maneira de alçapão...

Planchei-me nessa pechada
E o balão enveredou
Fiquei em debaixo dele
E o pingo também ficou.

Quando se ergueu, o bagual
Alçou a cola e disparou,
Mas entao a sorte foi
Que o balão o encurralou.

Correu como quatro quadras
Em volta da tal mangueira
Mas a menina foi viva
Que lhe trancou a porteira.

Saquei da cintura as bolas
E na volta escorreguei
Mas sacudi meio a rumo,
E nos garrões lhe cruzei.

Deste sucesso, esquentado
E mascando a polvadeira
Lá do fundo já gritei:
- Oh! sia dona, abra a porteira! -

E desde esse dia, amigo,
Nunca mais voltei ao povo,
Pois desta feita fiquei
Com cara de laço novo.

Por isso creio o que dizes
A respeito dos balões,
São muito feios nas mulheres
Porém são bons curralões.

Saudades manda a Maruca
Que está linda e mui morruda,
Alentada e sã de lombo
E cada vez mais cogotuda.

memórias da tia Rosa,
Que a respeito de picanha
Andará batendo orelha
Se a Maruca não lhe ganha.

E te convidam, Manduca,
P'ra de volta te apeares,
Tomarás um chimarrão
Enquanto aqui panteares.

Com o teu amigo velho
E verdadeiro rapaz
Que se assina por costume
Juca Torena, no mas!

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