A mandinga

Poema em prosa, trágico-cômico-burlesco, que não se sabe bem como começou nem quando acabará - pela firma social S & S & S - como tudo se verá com o andar do tempo, se Deus quiser.

Não ride.

Existe - existe - abaixo de nós outros, que lemos jornais - discutimos política e tratamos de negócios - o mundo sombrio - rodeado de pouco caso - aparente - mas que é tratado com respeito, quando alguém carece do seu serviço - de ordem diversa - e que a geral hipocrisia social priva de procurar em plena luz.

O mundo que passa à nossa beira - durante o dia em que não atentamos - mas que espia o que fazemos - cospe no lugar onde pousamos o pé - e que traça no ar - sobre as nossas costas - grandes figuras fantásticas.

O tempo dos bruxedos - Não passou.

Apurai a memória e recordai-vos de mil frases soltas - sobre casos sucedidos com pessoas das vossas relações.

Recordai - recordai - atróz a dor de cabeça de um; a cólica súbita de outro; a congestão aqui, a febre acolá! Por que? Como? Por outro lado - os desgostos - as dissenções - a desconfiança - há cilada de todo o gênero.

Procurai - procurai.

São as misteriosas consultas provocadas pelo despeito - pelo ciúme - pela inveja e pela pequena ambição.

São as ignóbeis, beberagens; as representações barbaramente teatrais de cenas caóticas; as invocações - os gritos - os trejeitos - as contorções.

E o povo - por mais que ria - cá fora - lá dentro - no santuário - prosta-se.

Porque, apesar de tudo - ele não fala no feiticeiro - sem uma ponta - nem sempre oculta de um vago receio - como se o bruxo - estivesse - aqui - ouvindo e pronto a saltar sobre o imprudente e sufocá-lo com o laço invisível e todo poderoso da sua aliança com o DEMÔNIO.



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