Cancioneiro guasca
A batalha do Rosário

A desgraça do governo
Nos levou a tal estado,
Que deu valor ao inimigo,
Fez o exército desgraçado.

Bravos heróis se perderam
Faz pasmar a triste cena...
Devido à rude vileza
Do General Barbacena.

Como condutor de negros,
Que trouxesse do Valongo,
Conduziu a nossa gente
Muito pior que um rei Congo.

Deu princípio ao ataque.
Sem junção duma brigada...
Nem mandou juntar bagagens,
Carretas, bois, cavalhada.

E assim aconteceu
Sem nada determinar;
E só entrou nessa luta,
Aquele que quis entrar.

Fazendo carga no centro,
Sem dar proteção aos flancos
Lá deixou bastantes mortos,
Muitos feridos e mancos.

Ganha força o inimigo
À cavalaria do Rio,
Que por ser pequena força
Logo rompida se viu.

Um grande Abreu em socorro
A cavalaria entrevela
E aí um batalhão nosso
O matou junto com ela!

Já então a vil canalha,
Que ficou fora de forma,
Vai a correr pelos altos
Sem disciplina e sem norma.

Lá se foram os covardes
Que na luta não entraram;
Creio alguns três mil homens
A ela desampararam.

Muitas chinas percorriam
Pelas margens dos banhados,
Levando cada uma delas
Aos dez e doze soldados!

Neste número de covardes
Iam muitos oficiais,
Que se esqueciam das honras
E vozes dos generais.

Ó Augusto Imperador!
Dai-lhes, senhor, castigo!
Pois que devem ser julgados
Ainda mais do que o inimigo.

Por esse motivo enorme
Nossa ação foi malfadada,
Por haver nas vossas tropas
Oficiais feitos do nada.

Quando devem ser exemplo,
Exercitam a fugida:
Por isso, Augusto senhor,
Foi vossa gente perdida.

Rege a ordem militar
Dar o soldo, mas também
Castigar o delinqüente,
Premiar o que serve bem.

Se quereis ser triunfante
Mudai desde logo a cena,
Não dês heróis combatentes
Ao cargo de um Barbacena.

Tendo-nos sido visível
Quase inteira a perdição,
O herói Bento Gonçalves
Foi a nossa salvação!

Vou apostar se quiserdes
Uma soma não pequena,
Que ignoram as praças
Como atacou Barbacena.

Zelou muito a retirada!
Deixou aos centos cansados!
Assim perde um general
A vida dos seus soldados.

E como fraco, decerto,
De cada rio, fez muro:
Muito além de São Lourenço
Não se julga estar seguro.

David Francisco Pereira - Alferes.
(Poucas horas depois do combate do Rosário,
em 20 de fevereiro de 1828.)


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